Durante o concerto da Filarmónica Barrilense realizado na noite de ontem, dia 25 de Julho, os antigos presidentes da Junta e Assembleia de Freguesia usaram da palavra. Para memória futura, transcrevem-se os dois documentos.
Intervenção do último presidente da Junta de Freguesia do Barril
de Alva, Carlos Alberto Ramos
*
Por ser longo, o texto
argumentário sobre as razões que
levaram o signatário Alberto de Moura Pinto, ministro da primeira
República, a exercer o direito de propor o projeto de lei aprovado pelo governo
no dia 25 de Julho de 1924 prescindimos da sua leitura e transcrevemos apenas o
documento histórico de que todos os barrilenses
se orgulham:
Artº 1º - É desanexada da freguesia de
Vila Cova Sub-Avô, concelho de Arganil, a povoação do Barril, a qual passará a
constituir uma freguesia, denominada Barril de Alva, ficando as duas freguesias
delimitadas entre si pelo rio Alva, afluente do Mondego.
Artº 2º - A freguesia de Vila Cova
Sub-Avô passará a denominar-se Vila Cova de Alva.
Artº 3º - Fica revogada a legislação em
contrário.
A data que hoje recordamos tem a
simbologia que a História confere aos
grandes momentos vividos por um povo que deseja caminhar pelo seu próprio pé.
Não há nesta frase qualquer analogia
com a opressão de outro povo; enquanto lugar da freguesia de Vila Cova
de Sub - Avô, a povoação do Barril, como era designada, nunca deixou de se
tornar grande, não alargou fronteiras, mas
económica e socialmente, sim – foi enorme! Por isso mesmo, Moura Pinto
argumentou que : “… atingiu a sua
maioridade e a de Vila Cova não carece dela para a sua vida, e só a
independência administrativa garantirá a boa ordem, a calma nos espíritos e o
regresso aos bons tempos de harmonia…” .
Como se vê, o Baril de Alva cresceu –
cresceu a ponto de ter mais residentes do que o lugar de Vila Cova (não da soma
da totalidade dos lugares que compunham a freguesia).
Em 1924 residiam no lugar do Barril 485
pessoas; com a independência administrativa e mais tarde religiosa, a população
aumentou: em 1940 havia 508 residentes, em 1950, 510 e em 1960, 491.
Durante cinquenta anos, o Barril de Alva
assumiu-se como terra de progresso e bem estar, graças à benemerência de alguns do seus filhos
dilectos.
Com a revolução de Abril, chegaram as
mais valias do Estado através do poder local e manteve-se a intervenção cívica
da União e Progresso do Barril de Alva, com sede em Almada, a quem se devem alguns dos
melhoramentos da então Freguesia. Andou bem a União e Progresso quando em 25 de
Julho de 1965 ergueu um monumento no Barril de Alva, honrando o bairrismo e benemerência dos Barrilenses.
Com a reforma do poder local que levou à
perda da independência administrativa no ano transato, o Barril de Alva sentiu
que lhe cortaram as asas, logo agora que ventos de mudança faziam desta bonita
localidade um local virado para a indústria do Turismo através de nichos de
mercado que colocaram um ponto do mapa de Portugal nas rotas da comunidade
autocaravanista europeia, e passou a dinamizar a prática escutista a níveis
nacionais.
Feita a sementeira dos projetos da extinta Junta de Freguesia, em boa
hora o executivo da União das Freguesias
de Côja e Barril de Alva os tornou seus, dinamizando-os a um grau de superior qualidade.
Assim sendo, projetando o próximo futuro,
há a certeza de que o Barril de Alva não
vai deixar de assumir a sua
importância na vida da União das
Freguesias, comungando da prática
generalizada dos bons costumes das
gentes que fazem parte desta nova autarquia.
O Barril
de Alva está bem vivo: está nas mãos dos barrilenses pugnar pelo futuro
e bem estar das instituições que alberga no seu espaço territorial: ”Águias do
Açor”, equipa desportiva amadora de BTT, “Caracol ao Sol”, creche e pré
primária, “Centro de Dia”, e Associação
Filarmónica Barrilense, instituição centenária e menina bonita dos nossos
olhos.
Se agora fizermos um pouco de alguma
coisa pela comunidade a que pertencemos, seremos um povo ainda mais orgulhoso
do seu passado.
Dos que
virão depois de nós esperamos merecer
boa lembrança nos dias 25 de
Julho de todo o sempre pela obra que
formos edificando,
Hoje é o nosso dia - o dia do Barril de
Alva!
Viva o Barril de Alva!
Intervenção do último presidente da Assembleia de Freguesia do Barril de Alva
*
Será
que sou livre de poder manifestar os meus sentimentos que me parecem justos e
humanos, sobre o que me vai na alma, ou enganei-me quando acreditei na
liberdade, na honestidade e nos valores democráticos, em resumo, que
justificaram a revolução de Abril?
Como
homem livre, entendo, que não devo ausentar-me da defesa destes valores – o que
não acontece com a maioria dos políticos, cada vez mais distantes destes
princípios, descarada e escandalosamente próximos de um tempo em que imperava o
medo, a coação, a represália sobre os cidadãos de espírito livre e do livre
pensamento.
Alguns
de nós, idealistas, utópicos e sonhadores, continuamos a acreditar que é possível e urgente regressar aos valores de
Abril. Foram homens e mulheres com esses ideais que, na minha aldeia - no meu
Barril de Alva - recuperaram o edifício da
antiga escola, e agora está linda…
-
que recuperaram o
Urtigal, semi abandonado, e agora está lindo…
-
que recuperaram toda a zona envolvente
da ponte, e agora está linda…
-
que ergueram um parque para autocaravanas, gabado por todos que o utilizam,
levando nome do Barril de Alva à Europa
inteira…
-
que recuperaram fontanários, requalificaram o largo da escola, decidiram
e fizeram aprovar a toponímia do Barril de Alva, ergueram um novo Centro
de Dia, criaram postos de trabalho, etc, etc.
É
importante que se fale da obra feita
pelos homens de bem de ontem e de hoje; como é importante recordar os autarcas
que passaram pela extinta freguesia, de que orgulhosamente fiz parte como
presidente da Assembleia.
Servir
a causa pública é uma obrigação de qualquer cidadão; foi assim no passado, é
assim no presente e terá de ser assim no
futuro para que a data que hoje
comemoramos permaneça como marco histórico,
comemorado ao abrigo dos valores
democráticos de Abril.
Por
mim, como cidadão e barrilense, enquanto puder, jamais deixei de cumprir com esses desígnios, apresentando
ideias, discutindo projetos para glória da terra onde nasci.
Viva
o Barril de Alva